A CRIMAP, Clínica de Reabilitação Integrada Manuel Arthur Peixoto, foi inaugurada no dia 10/11/2016, mas sua história começou há 11 anos.
Manuel Arthur, o menino que dá nome a esse espaço, nasceu no dia 11/3/2005 e eu, Kariny, sou a mãe desse menino.
Quando fiquei grávida do Manuel já tinha um filho, o João Arthur, que estava muito feliz por ganhar o título de irmão mais velho e um amigo para brincar. A família celebrava a chegada do Manuel. Gabriel, meu marido, celebrava a chegada de mais um parceiro para assistir aos jogos de futebol e eu, meu segundo menino, feliz e confiante como toda mãe de segunda viagem. Toda aquela ansiedade do primeiro filho foi dando lugar a uma segurança. Apesar de saber que nenhum filho é igual ao outro, Manuel resolveu me mostrar que o inesperado faz parte da vida e que ele faria tudo ser diferente, muito diferente!
Dia 11/3/2005 finalmente havia chegado, a família estava toda reunida, avós, tios, tias... e nós, eu, Gabriel, João e Manuel ainda na barriga. Preparação para sala de parto, aquele último beijo na família. Todos se encaminharam para o vidro e meu marido se arrumou para estar comigo em mais um momento especial. Só que dessa vez não tão simples. Tudo pronto para ele nascer, estávamos ainda na sala de pré parto quando os batimentos começaram a cair, ele precisava sair dali o mais rápido possível e assim foi feito. No meio de uma grande confusão eu já sabia que não era exatamente aquilo que estávamos esperando. Manuel chegou e nesse momento começou a maior e mais intensa experiência de nossas vidas.
Gabriel ficou um tempo ao lado dos médicos cuidando de tudo e eu fui para o quarto receber o carinho daqueles que já buscavam maneiras de me confortar. Quando todos foram embora eu ainda não entendia bem o que estava acontecendo, foi quando ele me trouxe fotos do maior bebê da UTI e assim eu vi meu filho pela primeira vez.
Manuel foi submetido ao coma induzido imediatamente para que o cérebro descansasse e o quadro fosse estabilizado, depois de 13 dias ele acordou, junto com isso as incertezas de como tudo seria. Ainda na UTI ele começou a primeira atividade, foi a fono. Aprender a mamar era o pré- requisito para irmos para casa. Até o dia da alta chegar nossa rotina passou a ser dividida entre o hospital e a nossa casa, algumas vezes juntos, eu e Gabriel, outras separados, mas sempre lá. Em pouco tempo nós já conhecíamos todas as enfermeiras e todas elas já conheciam nossa família. Já sabíamos as regras, os procedimentos e aos poucos fomos conhecendo as histórias de cada um que dividia aquele espaço. Não, nós não éramos os únicos a viver um momento como aquele, tantos passam por momentos parecidos com esse, mas só percebemos quando estamos diretamente envolvidos.
Manuel foi mostrando um belo progresso e a ida para casa foi se aproximando. Finalmente João ficaria com o irmão, ele tão pequeno achava tudo muito normal. Os avós iam nos visitar em casa e nós estaríamos todos juntos. No dia 13 de abril do mesmo ano, fomos liberados daquele lugar que para tantos é sinônimo de tristeza, mas para nós era sinônimo de segurança. O desafio começava da porta para fora, e começou. Fomos buscar as terapias, fono, fisioterapia, terapia ocupacional e misturando tudo a uma rotina de bebê. Para que os resultados chegassem não bastava colocá-lo em tudo, precisávamos mostrar pra ele que acreditávamos na sua capacidade e nunca duvidamos, talvez pelo carinho que recebemos de tantas pessoas que também não duvidavam.
Em todos os momentos a família foi muito presente e participativa, cada um do jeito que podia e conseguia ia ajudando e nos mostrando o melhor caminho a ser seguido. Uns foram exemplos de cumplicidade e carinho para que nunca esquecêssemos que precisávamos estar sempre juntos. Os avós do Gabriel, Lenita e Luís Paulo, foram grandes responsáveis por isso, sempre nos apoiando, acreditando no Manuel e nos mostrando como era fundamental estarmos unidos. Outros foram responsáveis por nós mostrar que o amor que já sentíamos pelo Manuel seria o sentimento que nos levaria adiante. No meio do turbilhão de emoções, em algum momento, eu ouvi alguém dizendo "Ele não é nosso?! Já não o amamos tanto?! Então agora é seguir em frente!". Não adiantava ficarmos parados esperando que o tempo voltasse e fosse diferente, então meu pai, José Manuel, colocou nossos pés no chão.
A rotina de nossa família passou a ser a rotina dele, João foi diminuindo suas atividades enquanto Manuel só aumentava. Quando Manuel completou um ano percebemos que estava na hora do João ter mais espaço para ele, foi aí que entrou em nossa história uma pessoa fundamental para que pudéssemos chegar até hoje com segurança. Belinha, uma senhora que Manuel gosta de falar que é idosa mesmo sem ser, se tornou o meu apoio com João e aos poucos foi tomando conta de tudo que cercava o Manuel até chegar a ele e não soltar mais. É ela que cuida dos mínimos detalhes, que briga por ele com quem quer que seja e a quem eu confio meu filho há mais de 10 anos. Sem ela, definitivamente, não teríamos chegado até aqui da mesma forma. Incansável e preocupada como só uma mãe pode ser, ela se tornou a referência de segurança para nós e principalmente para nossos filhos.
Manuel já estava com um ano quando o primeiro questionamento do irmão mais velho chegou. Com uma pergunta sutil e despretensiosa nos deparamos com uma dúvida que certamente era compartilhada por muitos. “Meu irmão não vai andar?” Não sabíamos. Seria errado responder que sim e mais ainda falar que não. Era a hora de explicar o que tinha acontecido, com cuidado e delicadeza fomos medindo nossas palavras e deixado claro que faríamos de tudo para que ele andasse e conseguisse fazer muitas outras coisas, mas que ele tinha tido um “machucadinho” no cérebro e isso tinha afetado sua parte motora e por esse motivo nossa resposta não poderia ser objetiva.
Para que esse progresso viesse, era preciso investir em muita fisioterapia, começamos indo para o Jardim Botânico, lá ele fazia fisioterapia motora e terapia ocupacional, além dos atendimentos que eram feitos em casa. Foi nesse espaço que passou pela minha cabeça, pela primeira vez, a ideia de ter um lugar com todas as terapias juntas, que acolhesse a família e tivesse alguma infraestrutura por perto. Em pouco tempo Manuel já fazia todos os tipos de fisioterapia que eram possíveis e a cada consulta com a neurologista percebiamos que os progressos eram enormes e que ele respondia muito bem a todos os estímulos.
Quando Manuel completou 3 anos uma nova fase começou, precisávamos conciliar todas as fisioterapias com o horário da escola, estava na hora de dar esse passo e deixar ele crescer ainda mais. João, com responsabilidade que crescia nele de cuidar de tudo para que o irmão fosse feliz e nós, com a expectativa que ele se adaptasse, e ele se adaptou! Manuel já fazia parte de grupos de crianças antes, íamos sempre a pracinha, ele já convivia com os amigos do João, mas agora seria o grupo dele, e vem sendo desde então. São amigos muito queridos que sempre se trataram com muito carinho e respeito.
Em 2009 Manuel já estava indo para seu segundo ano de escola, era muito querido por todos e sua independência só aumentava. Foi quando decidimos ter outro filho. Em pouco tempo eu já estava realizando um pensamento antigo, de ter três filhos. Descobri que seria uma menina, viria para completar nossa família. Em março, 13 dias depois do aniversário do Manuel chegou a Maria Catarina, nossa Nina. Uma menina decidida e com uma personalidade forte. Foi ela que incentivou Manuel a ultrapassar seus limites e buscar novos caminhos, só que agora sem ninguém lhe segurando pelas mãos. Foi ela que o ajudou a dar os primeiros passos, que mostrou para ele como fazia para ser livre! Nina já chegou na rotina dele e nunca questionou, sempre quis participar de todas as terapias e aos poucos foi fazendo Manuel crescer junto com ela.
Nesse momento as terapias já eram muitas e Manuel sempre se mostrando pronto para todos os desafios que eram colocados na sua frente. Quando o cansaço, por fazer tantas atividades chega, ele sabe que tem um colo de avó esperando. Minha mãe, Ondina, sempre esteve pronta para abraçá-lo e preparar tudo para que ele se sentisse melhor, ela, que sempre cuidou de tudo, agora para o que estiver fazendo quando ele a pede alguma coisa.
Em 2015 fomos fazer um intensivo fora do país em um espaço com todas as terapias integradas e com um enorme fluxo de crianças. Foi lá que despertou em mim a certeza de que era a hora de montar um lugar como aquele, nosso sonho precisava ser colocado em prática. Não era possível fazer isso sozinha. Gabriel, como sempre, estava comigo. Para deixar de somente idealizar esse projeto, buscamos aqueles que sempre pudemos compartilhar todos os nossos planos, os pais do Gabriel, Arthur e Marisa. Minha sogra e meu sogro são para mim como meus segundos pais, sempre ao nosso lado dando muito amor, carinho e segurança para todos os passos que precisamos dar. Apresentamos tudo e eles nunca questionaram, assim como em todos esses anos. Juntos colocamos a ideia no papel, eles contribuíram com as melhores ideias e nos proporcionaram aos poucos ir transformando o projeto em realidade. Ainda era muito difícil de acreditar que estava de fato acontecendo, até que o primeiro balanço foi preso no teto, então nos demos conta, estava ali, nosso sonho sendo realizado.
O espaço foi escolhido com todo cuidado e ficou pronto graças a Arthur e Marisa. Os materiais estavam sendo encomendados, mas faltava uma parte importante: a equipe. Quem colocaríamos para atender as crianças que queríamos ver fazendo uso de tudo aquilo? Quem se dedicaria, assim como nós, a cuidar de cada detalhe, de cada criança? Não tinha grupo melhor do que a equipe que vínhamos formando durante todos esses anos. Aqueles que se dedicaram tanto ao Manuel agora poderiam se dedicar a muitas outras crianças em um espaço próprio para isso. Algumas pessoas foram sendo somadas a essa equipe aos poucos, quando juntamos todo mundo, a CRIMAP, Clínica de Reabilitação Integrada Manuel Arthur Peixoto ganhou vida.
É ao Manuel, esse menino que consegue transformar os lugares e principalmente as pessoas, a quem nós dedicamos tudo isso. Ele, não tenho dúvidas, dedica a todos que sempre o cercaram de tanto carinho.
Aos tios e tias, fica nosso eterno obrigado, seria difícil escolher um momento dessa história toda para vocês aparecerem, em todos eles vocês nos presentearam com o mais puro amor. Aos primos, os companheiros, que sempre cuidaram do Manuel com tanto carinho, vocês fazem dele um menino mais feliz. Aos amigos, que não são poucos, que nos abraçaram quando precisávamos, nos acolheram em tantos momentos, vocês fazem parte dessa história de sucesso. Todos que passaram pela vida do Manuel tem uma enorme contribuição, fica aqui nossa gratidão!